terça-feira, abril 22, 2014

Parabéns Benfica

Duplos parabéns, pelo título, e pela demonstração da nódoa que é a televisão portuguesa.
Todos os dias, a necessidade de manter o pagode de boa aberta para engolir a xaropada de anúncios que é a sua missão e modo de vida, transforma as TVs em casino, onde a repetição do “me liga vá” atinge números pornográficos, em coros gritados e desafinados, acompanhados em fundo por música pimba congelada.
Todos os dias se continua esse programa de gosto duvidoso, consumindo pessoas com ou sem talento, em esquemas e jogos qual deles o mais boçal.
Todos os dias, um friso bocejante de disponíveis baratos preenche o fundo dos sórdidos eventos, tentando dar-lhes uma aparência de vida, num playback inverosímil dos guinchos e gritinhos gravados com que se junta a poluição sonora ao lixo visível.
Todos os dias os 4 canais nos demonstram a sua redundância, copiando-se mutuamente, num simulacro de concorrência, onde até nos anúncios se sobrepõem e imitam.
Mas… eles insistem, porque há muita gente distraída.
Por isso o Benfica foi uma bênção para eles, e uma lição para nós.
Claro que, como de costume, todos os canais fizeram o mesmo, e todos gastaram as muitas horas disponíveis a embrulhar os anúncios, nos gritinhos e guincharias fornecidos de borla pelos eufóricos benfiquistas, sem necessidade de inventar qualquer forma de lixo complementar.
Aparecer na TV é a promoção indispensável para começar carreiras de “famosos”, e, enquanto não pinta uma oportunidade de concorrer ao lixo, vir para a rua gritar e saltar foi uma oportunidade que poucos quiseram perder.
Multidões sempre multiplicadas por 10 ou 20 e animadas pelo tónico da câmara nas proximidades, foram filmadas de norte a sul, a celebrar um pormenor matemático, pois o campeonato foi conquistado ao longo de meses, já se sabia há semanas, e só estará ganho, objectivamente, no fim, ou seja daqui a uns dias.
Mas que importa? Gritos e pulos reais, sem necessidade de importar figurinos, aturar figurões ou pagar figurantes, foram um maná para a excelentíssima trindade televisiva  e seus derivados.

Apenas uma falha – há bocado, no treino de dança, apareceu um cachecol, e a Jéssica, estava disponível para saltar e gritar para uma câmara que nunca apareceu. Queria, por isso, pedir aos benfiquistas de Viseu e Vila Pouca, que parecem ser os últimos dos que falta filmar, que se despachem, e deixem uma câmara vir a Turquel. A Jéssica já voltou para as aulas, mas deixou o cachecol, e até eu, mesmo sportinguista, não me importo de gritar e pular para sair na TV. E, modéstia aparte, tirando a minha mulher, sou o mais famoso cá de casa!

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