segunda-feira, maio 19, 2014

Vivó Benfica

Abro a TV, num daqueles raros períodos em que as telenovelas permitem que haja televisão, e, com um ou outro pequeno intervalo para o dr. Paulo Portas fazer de conta que fica muito feliz por a troika fazer de conta que se vai embora, só dá Benfica. É justo!
Depois da fornada de castelhanos da Dª Brites de Aljubarrota, e da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia em maiúsculas, apenas uma vitória sobre o Rio Ave poderia elevar a auto-estima deste povo a um nível que não desilude os seus egrégios avós, tios e primos.
Mas, mais do que justo, é bom!
Se vermelho é, por definição, a cor da TV, após o vermelho do sangue bósnio, depois líbio, e sírio, agora quase em saldos, e enquanto a sangria ucraniana não fica telegénica, nada melhor que um povo de brandos costumes, e esgrimir cachecóis vermelhos, e a berrar que o SLB é o melhor o mundo, ou até mesmo da Amadora e arredores.
O que me preocupa é o futuro.
Quando se espera que o fogo substitua o Benfica para cumprir o objectivo de  tingir as têvês de vermelho, vêm os meteorologistas prever chuva. Inconscientes!
Antes que as têvês os despeçam (para despedir basta o Governo) lanço uma ideia:
O Benfica foi apurado para a final da Taça de Portugal feminina, o que, mesmo baixando um pouco a tabela dos anúncios, permite prolongar a festa mais uma semana, dando tempo a que os meteorologistas despeçam a chuva. Apenas me parece oportuno e politicamente correcto, antes que o leão do Marquês baixe à
psiquiatria, transferir o arraial para junto da estátua da Florbela Espanca, ou, se as televisões estiverem numa de facturar ajudas de custo, para Aljubarrota, aproveitando para passar na tasquinha onde o meu amigo Rodrigo está ansioso por revelar os seus Pastéis de Ló a todos os benfiquistas, mesmo aos benfiquistas do Sporting, Porto, ou outras nacionalidades.

Sem comissões, esclareço!

quinta-feira, maio 01, 2014

Nelson Evora e o racismo

Causou grande eco na comunicação social a notícia de que o atleta Nelson Évora e amigos teriam sido impedidos de entrar numa discoteca por haver “demasiados negros no grupo”.
Porque vivemos num mundo de modas, e, arrefecida que está a moda da homofilia, é agora a vez do anti-racismo.
Saudando desde já o fair-play e inteligente humor do Dani Alves e da sua banana, o incidente com o grande Nelson Évora convida a um prudente raciocínio sobre estas questões de raças e segregações.
Não devemos perder tempo a questionar o mérito das decisões políticas de proibir segregações em funções de diferenças, sejam elas étnicas, religiosas, sexuais ou de qualquer outra natureza. O princípio e o direito à igualdade é uma das maiores conquistas da civilização, e como tal deve ser entendido e respeitado, mas sem excessos insensatos.
A verdade é que, todos por igual, têm direito de associação, escolhendo com quem o fazer.
Ideologias políticas, clubismos, religiões, regionalismos, tendências sexuais, moda, identificação cultural, são factores de selecção e agregação na maioria das associações, institucionais ou eventuais, de todos nós. Tal como a raça.
A verdade é que no atletismo português há milhares de atletas, e sem consultar estatísticas, não tenho dúvidas de que a maioria será de raça branca, pelo que, em termos de probabilidade matemática, o grupo do Nelson Évora, deveria incluir tantos ou mais brancos que negros. Isso não aconteceu, por que a constituição do grupo foi feita no uso dum legítimo critério do Nelson, que seleccionou quem muito bem entendeu para o seu grupo, deixando todos os brancos de fora.
Os porteiros deste tipo de estabelecimentos são, por definição, fabricantes de discriminação, mas essa sua função, duma forma geral, nunca foi contestada ou publicamente avaliada, a não ser em casos de violência. Quer isso dizer que se o grupo tivesse sido barrado por falta de gravatas, ou até smoking, por ter mais homens que mulheres, mesmo por ter “mau aspecto”, critérios legitimados pelo uso diário em montanhas de sítios, tudo seria normal.
O porteiro limitou-se a opor ao critério de selecção do grupo usado pelo Nelson, o seu critério de selecção da frequência do estabelecimento, de acordo com aquilo que ele entendeu interessar ao patrão e seu negócio.
Incidente que toda a gente é obrigada a condenar, até porque o porteiro poderia ter usado qualquer outro da sua bateria de pretextos para atingir os fins pretendidos, sem a exposição a que se sujeitou.
Esqueceu-se o porteiro que neste fluir de modas, a hipocrisia é a única que nunca passa.