sexta-feira, fevereiro 06, 2009

A Crise Social


Agora que “a crise” deixou de ser mero tema de conversa, alternando com a meteorologia e os árbitros do futebol, e passou a ser uma preocupação real de todos os portugueses, dos que perderam os empregos, e de todos os outros, que não sabem se não serão os próximos a cair nesse buraco, chegam os sinais de crise social.

A Grécia já deu o mote, em Espanha teme-se e espera-se a primeira faúlha, e em Portugal os sinais instalam-se.

Os partidos da esquerda crescem sem nada fazer por isso, apenas porque “as cassetes” dos direitos dos trabalhadores soam bem aos ouvidos de muitos dos que vão perdendo empregos, subsídios, esperanças.

Do outro lado clama-se por governos fortes que “tenham mão nisto”. Face ao oportunismo da banca, substituindo juros em queda por crescimento dos spreads na ordem dos 300 ou 400%, já se defende a nacionalização total da banca.

O extremar de posições vai-se acentuar quando o desespero começar a sair à rua. Está para breve.

Entretanto continua a ânsia remendona dos governos, sem coragem (nem vontade) de enfrentar o essencial. Obama, depois de “explicar” a origem da crise – o esmagamento da classe média - e, também ele, se confinar às medidas tradicionais, veio, depois, arriscar uma pequena heresia, anunciando apoios exclusivamente para os utilizadores do aço americano. Caiu o Carmo e a Trindade entre os puristas do Liberalismo, como se, de facto, fosse hoje possível qualquer economia recuperar-se sem se proteger. É um sinal, um princípio, mas apenas isso, e tímido.

Em Portugal nada de novo – meia dúzia de novos empregos artificiais, medidas simples e justas de mera correcção das prepotências e abusos fiscais do Estado face às empresas e aos cidadãos, e pouco mais.

Recupera-se o slogan “Compre português”. Mais um bom princípio sem grandes hipóteses de concretização – todos sentimos o direito, face à disparidade de preços e às dificuldades, de comprar barato, esperando que os outros cumpram esse imperativo nacional. O problema é que “os outros” somos todos nós…

O princípio é correcto, mas só é funcional acompanhado de medidas que coloquem o produto nacional a preços próximos dos da concorrência, e de uma acção pedagógica que esclareça e convença que, ao contrário da ideia feita por muitas décadas competindo com base na baixa qualidade, o produto português é hoje tão bom ou melhor que muitos dos que com eles concorrem.

As tais medidas de defesa da economia nacional e Europeia que não há coragem sequer para discutir. Ainda!

PS – Vítor Ramalho foi, que eu saiba, o primeiro político a pôr publicamente o dedo na ferida, e abordar a crise económica numa perspectiva muito próxima da que venho defendendo, com uma visão social e abrangente das suas profundas razões e prováveis consequências. Face à limpidez da sua leitura, a excelente Teresa Caeiro que com ele debatia na SIC Notícias, parecia uma colegial, balbuciando a cartilha do CDS, que tenta convencer-nos que se há pobreza em Portugal, falências no mundo e inundações no Brasil a culpa é de José Sócrates.

As minhas públicas felicitações ao dr. Vítor Ramalho.