Duplos parabéns, pelo título, e pela demonstração da nódoa
que é a televisão portuguesa.
Todos os dias, a necessidade de manter o pagode de boa
aberta para engolir a xaropada de anúncios que é a sua missão e modo de vida, transforma
as TVs em casino, onde a repetição do “me liga vá” atinge números
pornográficos, em coros gritados e desafinados, acompanhados em fundo por música
pimba congelada.
Todos os dias se continua esse programa de gosto duvidoso, consumindo
pessoas com ou sem talento, em esquemas e jogos qual deles o mais boçal.
Todos os dias, um friso bocejante de disponíveis baratos
preenche o fundo dos sórdidos eventos, tentando dar-lhes uma aparência de vida,
num playback inverosímil dos guinchos e gritinhos gravados com que se junta a poluição
sonora ao lixo visível.
Todos os dias os 4 canais nos demonstram a sua redundância,
copiando-se mutuamente, num simulacro de concorrência, onde até nos anúncios se
sobrepõem e imitam.
Mas… eles insistem, porque há muita gente distraída.
Por isso o Benfica foi uma bênção para eles, e uma lição
para nós.
Claro que, como de costume, todos os canais fizeram o mesmo,
e todos gastaram as muitas horas disponíveis a embrulhar os anúncios, nos gritinhos
e guincharias fornecidos de borla pelos eufóricos benfiquistas, sem necessidade
de inventar qualquer forma de lixo complementar.
Aparecer na TV é a promoção indispensável para começar
carreiras de “famosos”, e, enquanto não pinta uma oportunidade de concorrer ao
lixo, vir para a rua gritar e saltar foi uma oportunidade que poucos quiseram
perder.
Multidões sempre multiplicadas por 10 ou 20 e animadas pelo
tónico da câmara nas proximidades, foram filmadas de norte a sul, a celebrar um
pormenor matemático, pois o campeonato foi conquistado ao longo de meses, já se
sabia há semanas, e só estará ganho, objectivamente, no fim, ou seja daqui a
uns dias.
Mas que importa? Gritos e pulos reais, sem necessidade de
importar figurinos, aturar figurões ou pagar figurantes, foram um maná para a
excelentíssima trindade televisiva e
seus derivados.
Apenas uma falha – há bocado, no treino de dança, apareceu
um cachecol, e a Jéssica, estava disponível para saltar e gritar para uma
câmara que nunca apareceu. Queria, por isso, pedir aos benfiquistas de Viseu e
Vila Pouca, que parecem ser os últimos dos que falta filmar, que se despachem,
e deixem uma câmara vir a Turquel. A Jéssica já voltou para as aulas, mas
deixou o cachecol, e até eu, mesmo sportinguista, não me importo de gritar e pular
para sair na TV. E, modéstia aparte, tirando a minha mulher, sou o mais famoso
cá de casa!