sábado, julho 05, 2014

Cuidadinho. senhores políticos!

Volta a crescer a pressão sobre a necessidade de gerar consensos, para garantir a estabilidade do País. Mas que consensos, e entre quem?
Há na política três únicas atitudes possíveis, excluídas as dúvidas e indecisões - Continuidade ou mudança, esta sob uma de duas formas: Evolução ou Revolução.
O modelo político português está suficientemente maduro (ou talvez já podre), para, retiradas as máscaras, nele se distinguir quem defende a continuidade, a evolução ou a revolução.
É conhecida a máscara do Partido Comunista, que esconde numa rotina de acção democrática uma nunca traída ideologia revolucionária. São conhecidos os pequenos grupos que se demarcam por pormenores estratégicos ou tácticos, mas que no fundo seguem a mesma ideologia. Os cultores da revolução são facilmente identificávies, e, justiça seja feita, descontadas as pequenas habilidades impostas por este baile de máscaras, jogam limpo.
Mais difícil é a destrinça entre os defensores da continuidade e da evolução.
A mudança é argumento comum e inevitável de todos os candidatos a gestores da continuidade, não sendo esse argumento totalmente falso, porque se ganharem, mudam mesmo - caras, clientelas, boys.
A experiência da rotação governativa já não deixa dúvidas sobe a clareza desse processo, que acabou por ser institucionalizado com um novo conceito - o arco da governação.
Os partidos do arco da governação são, assim, o garante da continuidade, disputando o PSD e o PS um animado Benfica-Sporting com o CDS emulando o FC Porto na caminho para o êxito através dos bastidores.
Portanto, aquilo que o Presidente da República e o Conselho de Estado, aparentemente num coro afinado (Mário Soares estava rouco e Alberto João Jardim ficou a estudar a partitura no check-in do Funchal), exigem é: CONTINUIDADE.
Será essa a solução? Será isso que o Povo Português quer?
Analisei o panorama eleitoral sob um prisma novo, avaliando o peso do apoio à continuidade e as expectativas de mudança. Considerei que o apoio à continuidade é dado pelo "arco da governação", com todos os outros, mesmo os que se baldam, a exigir mudança. Dentro destes tentei ainda medir a relação entre os que preferem evolução ou revolução.
O panorama confirma aquilo que o saber popular já vinha denunciando - começa a ser questionável a representatividade de quem nos governa, ou nos quer governar: Os partidos do tal arco não representam sequer metade dos portugueses, e se os resultados das recentes eleições europeias pudessem ser interpretados da mesma forma (não podem, mas têm, seguramente, algum significado), quem, por dentro ou por fora, disputa o poder fá-lo-ia em nome de um quinto dos cidadãos. ASSUSTADOR!



Outro aspecto que poderá justificar alguma atenção é a qualidade desse desejo de mudança. Segundo o (frágil) critério que escolhi, a relação entre os que defendem evolução ou revolução tem evoluído da seguinte forma:


Constata-se aquilo que alguns analistas tinham anunciado - a crise quebrou a tendência regressiva das ideologias revolucionárias, e levou a alguma recuperação. É certo que as Europeias não confirmam essa inversão, mas, como já reconheci, o contexto é outro, e confesso que não sei bem se o fenómeno "Marinho Pinto" não encerra muito de revolucionário.
Esta é a visão em Portugal dum fenómeno que não é exclusivo nosso, e faz abalar as nações mais poderosas. Ninguém trava o crescimento das desigualdades, em nome dos interesses do dinheiro, e as tensões vão acumular-se.
O Mundo está doente, e os nossos líderes continuam a gerir o trivial, indiferentes aos grandes desafios e ameaças.  Continuo a não querer ser pessimista, mas não consigo augurar nada de bom para tanta inconsciência.