É bom viver na aldeia!
Ontem tive que ir a uma empresa de Lisboa, que, como tudo o
que hoje é em Lisboa, ficava fora de Lisboa. Deram-me a morada de Páteo dos
Leitões, em Alfragide, e, como apesar de velho não sou tão bota de elástico
quanto isso, tratei de a introduzir no GPS.
O malvado GPS respondeu-me que não conhecia,
e, como a referência da morada já era um pouco antiga, admiti que os leitões
tivessem crescido, e tentei Páteo dos Porcos. Nada feito. Em desespero de causa
tentei o nome da empresa, e fui bem sucedido – ficava no Largo das Forças
Armadas, em Alfragide.
Pedi mentalmente desculpa aos meus amigos militares
pelas eventuais conotações ofensivas da minha segunda tentativa, e lá fui.
Cheguei com facilidade,e rumei ao número indicado, um prédio anónimo, com ar
residencial, onde não vislumbrei porta, apenas um portão de garagem com campaínha
que premi. Lá dentro ruído de máquinas indicava gente e trabalho no interior, pelo
que insisti.
A porta abriu-se e enfrentei um aspirador com uma senhora
atrás, que deram um pulo de susto quando me viram. Serenei a senhora, que serenou
o aspirador, e perguntei-lhes se era ali
a empresa, tendo a resposta que já esperava - tinha sido, mas mudara, não sabia
para onde.
Voltei ao carro e ao GPS,
para recolher o telefone, na esperança de que, na mudança, tivessem mantido o
número. Depois da inevitável rábula do “Para se coçar, prima 2”, “para ver as
vistas, prima 3”, “para qualquer coisa, prima ou cunhada tanto faz” premi o 1
que levava aos assuntos comerciais, o único botão de um call center que é
geralmente atendido em segundos.
E foi!
Fiquei a saber que tinham mudado... para 3 portas ao lado. E
lá estava, de facto, a empresa, debaixo dum anúncio doutra firma completamente
diferente.
Isto na aldeia não podia acontecer – não só a senhora
conhecia todas a gente de várias ruas em redor, como os telefones ligam para gente além das primas, e têm todos
pessoas do lado de lá.
O único risco, também ultrapassável, era a empresa ser
localmente conhecida por alguma alcunha.