quinta-feira, maio 27, 2010

Inauguração da Crise

Aproveitando a visita papal, Sua Excelência o Primeiro-Ministro inaugurou com pompa e circunstância a crise económica portuguesa.
Interrompendo por minutos a homilia no modesto púlpito apresentado pelo Estado Português, para segurar a fita, Sua Santidade não se coibiu de manifestar a Sua Excelência a surpresa pela pouca participação pública no evento.
Como é seu timbre, Sua Excelência foi claro, preciso e minucioso nas explicações:
  • Sua Excelência o Presidente da República estava acometido de um surto de azia, resultante de alguns excessos no copo de água do primeiro casamento homossexual.
  • Sua Excelência o Ministro das Finanças estava também a contas com um pequeno problema de saúde - um mau jeito ao retirar a mão do bolso mais apertado de um contribuinte obrigara a fisioterapia.
  • Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas andava perdido em Espanha, à procura de alguém que lhe desse instruções sobreo TGV.
  • As outras excelências do Governo não tinham sido convidadas porque Sua Excelência já não se lembrava bem quem eram.
  • Os excelentíssmos deputados estavam todos reunidos, a combinar o programa de inquéritos para a próxima época.
  • Os representantes da magistratura escusaram-se com receio de ter sido convidado o bastonário da Ordem dos Advogados
  • As excelências decorativas do costume declinaram o convite por não lhes ter sido garantida a presença da comunicação social cor de rosa.
Sua Santidade aceitou. Não evitou, no entanto, um reparo ao pouco interesse revelado pelas não excelências presentes na cerimónia. Aí, Sua Excelência ficou momentaneamente branco, mas, controlando a fúria, voltou a esclarecer com a clareza e a precisão do costume:
A culpa é da comunicação social, que fez correr entre os militantes trazidos para a figuração, o boato de que haveria por aí uma lata ainda com duas salsichas.

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