terça-feira, junho 22, 2010

Fair-play


Fair-play? Onde?


Algumas pessoas são ferozmente críticas do boxe, desporto considerado brutal e selvagem.

Devo confessar que a invenção desse desporto não é propriamente o que mais agradeço aos nossos ancestrais, mas reconheço que com toda a sua brutalidade o boxe tem uma lealdade que é regulamentarmente omissa noutros desportos.

Ainda ontem pudemos observar 11 coreanos completamente knock-out, a tentar cair no tapete para recuperar os sentidos, e descobrir a porta de saída, e ninguém parou o combate, com os portugueses alegremente a malhar na aflição.

Fair-play? Uma ova! Duvido que os coreanos, quando se ajoelharem em frente do Grande Líder para pedir todos os perdões do Mundo consigam disfarçar os traumas de quem, mesmo prostrado, continua a levar pancada, com risco dos inconscientes e destrambelhados gestos de auto-protecção serem tidos por provocatórios.

Fair-play é dar-lhes tempo e condições de recuperação, por exemplo, numa visita a Portugal, para perceberem que além de castanha também temos sardinha, e poder selar tudo com uma bacalhauzada.

segunda-feira, junho 07, 2010

Vuvuquê?

O futebol é um espectáculo bonito – um conjunto de homens (ou mulheres a tentar imitá-los) organiza-se em torno de uma bola, numa actividade de grande complexidade colectiva e individual, temperada pela aleatoriedade da resultante do confronto de duas organizações de objectivos antagónicos.


A facilidade de identificação com uma das partes, e a inocência do resultado da disputa, fizeram do jogo um instrumento de compensações e equilíbrios psicológicos, de escape inocente de tensões agressivas, dando-lhe relevo social.

Chegou o dinheiro, e tudo começou a estragar-se.

Desde logo porque os interesses em jogo levaram alguns a tentar substituir a verdade do jogo por arranjos externos, desvirtuando-o.

Depois porque em nome do jogo se criou uma elite profissional objectivamente inútil, paga a um preço que ofende quem fornece o dinheiro - Cristiano Ronaldo é um excelente profissional, tão bom como o José da Mata a fazer calçada, ou o Rui a cortar cabelos, mas muito menos útil que eles, e, por isso ganhando por mês o que eles não ganham numa vida.

Quando já pouco restava a atrair o cidadão normal aos campos de futebol, inventaram-se os exércitos de energúmenos, para desincentivar mesmo os mais corajosos.

Mas acho que, na época passada, ainda houve uma média de 7.5 espectadores por jogo, além das tais milícias.

Quase oito pessoas, é muita gente, e houve que recorrer à bomba atómica – a vuvuzela.

Agora sim, estão criadas as condições para o vazio de pessoas nas bancadas, totalmente entregues aos outros. E adivinhem quem é que vai seguir o primeiro jogo de Portugal na TV com o som desligado e a Heróica de Beethoven como som de fundo?